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CRÍTICA | Coringa: Delírio a Dois – O Caos e a Desconstrução do Anti-herói

O mundo é um palco. O palco é um mundo de entretenimento. Esse trecho da música That’s Entertainment, cantada por Lady Gaga — que dá vida a Lee — passa a ideia de aceitação e apreciação do caos cotidiano, pois até aquilo que é mais perturbador faz parte desse espetáculo. E, talvez, seja com esse objetivo que Coringa: Delírio a Dois tenta passar em tela um mix de informações, abordagens e gêneros — que vão desde animação até drama de tribunal — em prol desse entretenimento. Mas será que isso funciona?

Após muita expectativa, Coringa: Delírio a Dois chega aos cinemas e traz de volta o diretor Todd Philips e o roteirista Scott Silver, os mesmos nomes do excelente primeiro filme Coringa (2019). Além dos dois, temos também o retorno do diretor de fotografia Lawrence Sher, um dos responsáveis por traduzir de forma visual e admirável as nuances do filme e os sentimentos do protagonista — tanto como Arthur quanto como Coringa.

Em Coringa: Delírio a Dois, a história continua após os eventos do primeiro filme. Arthur Fleck — que foi abraçado por seus seguidores como o Coringa — está internado no hospital psiquiátrico de Arkham, inicialmente com uma postura diferente da que vimos no primeiro filme devido ao uso contínuo de medicamentos. Um dos guardas responsáveis pelo monitoramento de Arthur decide matriculá-lo na musicoterapia oferecida em uma das alas psiquiátricas do hospital. Lá, ele conhece Lee — a tão conhecida Arlequina. Os dois passam a se envolver, e ela, junto ao “delírio musical”, traz de volta a personalidade daquele Arthur do primeiro filme, que eventualmente se tornou o Coringa.

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Os números musicais são prazerosos de assistir, e a escolha do repertório reflete bem a paixão de Arthur por Lee, assim como suas oscilações entre personalidades. Obviamente, Joaquin Phoenix não tem a potência vocal de Lady Gaga, mas isso permitiu interpretações intimistas que apenas Arthur, naquele estado psicológico, poderia transmitir. Uma voz fragilizada, sussurrada e trêmula. Apenas alguém com aquela bagagem conseguiria cantar daquela forma, e isso foi bem representado no filme.

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Até esse ponto, você deve estar se perguntando por que mencionei tão pouco a Lady Gaga, já que a divulgação do filme deu tanta ênfase à sua participação. E, claro, qualquer filme com Lady Gaga desperta expectativa e curiosidade. O motivo disso é justamente pelo fato de que, no filme, sua personagem não está exatamente como co-protagonista, mas sim como coadjuvante. Contudo, deixo claro que isso não diminui o mérito de sua participação. Muito pelo contrário, ela está esplêndida, e toda cena em que aparece é um deleite.

Em boa parte do filme, ela assume o papel de suporte emocional para Arthur, seja de forma real ou alucinada. Ele deposita nela sua dependência emocional e também sua esperança de um futuro no qual poderia ser livre. Livre de tudo, mas principalmente do Coringa. Numa jogada ousada de Todd Philips, especialmente considerando o sucesso do primeiro filme, o diretor trabalhou neste filme para desconstruir a imagem do Coringa.

Dito isso, qual seria o problema do filme? Eu diria que o maior problema é sua forma desconexa de apresentar os fatos. Em diversos momentos, é quase impossível dizer onde a fantasia de Arthur termina e onde a realidade começa. Essa falta de clareza ao longo do filme impacta negativamente a experiência, tornando-a, por vezes, cansativa. E esse excesso de confusão não acrescenta muito à trama, apenas tira a oportunidade que o filme claramente tinha de ser mais objetivo. No entanto, isso não define o filme por completo.

O longa está disponível nos cinemas.

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Guilherme Novais

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