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Superman (2025): cuecas, resgate do otimismo e um jornalismo eficiente

Chegando ao cinema no dia 8 de julho para a sessão especial de Superman (2025), primeiro longa-metragem da DC Studios, dirigido e escrito por James Gunn, vi algo muito curioso: um grupo de pessoas vestia cuecas vermelhas por cima da calça e usava camisetas com o “S” que, na mitologia do Superman, significa esperança. A famosa peça do herói ainda rende debates acalorados, mesmo tantas décadas depois de sua estreia nos quadrinhos, em Action Comics #1, lá em 1938.

No longa anterior do personagem, O Homem de Aço (Man of Steel, 2013), de Zack Snyder a icônica — e controversa — cueca vermelha havia desaparecido. Muita gente gostou: convenhamos, pode soar meio tosco ver um homem enorme, musculoso e imponente, usando esse tipo de acessório, né? Na época, os filmes de heróis surfavam a onda de realismo desencadeada pela trilogia Batman, de Christopher Nolan, e o público vibrava com uma abordagem mais “séria” do Superman.

Mas por que, então, em 2025, doze anos depois, as pessoas do mundo inteiro estão abraçando o que outrora era considerado “tosco” para assistir ao novo filme do super-herói mais famoso do planeta?
Você pode dizer que é porque algumas redes de cinema estão oferecendo ingressos gratuitos a quem for vestido assim. Ok, argumento válido. Mas a sessão a que fui não tinha essa promoção, então vou ser otimista e imaginar que há algo além disso.

Na primeira imagem oficial de David Corenswet como Superman, já se via, sem disfarces, a famigerada cueca sobre o uniforme. Durante meses, o debate em torno do acessório ferveu novamente nas redes sociais, especialmente nesta era em que ninguém parece satisfeito com nada e a vontade de reclamar costuma falar mais alto do que a lógica, ou até a paciência de assistir antes de julgar.

Assistindo ao filme, entendi por que a famosa peça íntima vermelha retornou e como ela se torna algo “pequeno” – e, paraxodalmente, extremamente simbólica diante de tudo o que é apresentado. Não duvido que muita gente continue indo ao cinema assim vestida para ver e rever o longa, que estreia oficialmente hoje (10).

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James Gunn, mais uma vez, pega um projeto que poderia seguir caminhos bem distintos e lhe dá sua roupagem única, como já fez na trilogia Guardiões da Galáxia, da Marvel, e em O Esquadrão Suicida (2021) e Pacificador (2022–), da própria DC. O diretor e roteirista entrega um filme visualmente encantador, colorido, com elenco afiadíssimo e, sobretudo, cheio de coração. Acredito que, por haver tanto coração, ele resgata o que o (S)uperman simboliza e usa alegorias para a trama refletir o momento em que vivemos. E, podem ter certeza, é um longa que conversa diretamente conosco.

Ok, antes de qualquer coisa, eu preciso dizer que uma das coisas mais surpreendentes desde o início da divulgação deste filme foi a presença de Krypto, o Supercão. Conhecendo a habilidade de Gunn em trabalhar animais em CGI e transformá-los em personagens amados no mundo todo (oi, Rocket!), isso nem deveria ser uma surpresa tão inesperada assim. E o melhor: o personagem não só funciona, como encanta em todos os momentos em que aparece.

Krypto age como um cachorro pestinha e desgovernado, que abana o rabo quando está feliz e sai correndo atrás de qualquer coisa que se mova. E isso é tão gostoso de assistir, especialmente pra quem, como eu, tem três cachorrinhas em casa. A conexão é instantânea.

Dito isso, voltamos ao Superman.

A nova encarnação do herói, desta vez vivida pelo ator David Corenswet, é tão deliciosa de assistir que tudo ali brilha nos olhos — algo que eu não sentia há tempos em um filme de super-herói, especialmente do Superman. As aparições anteriores, no finado DCU de Zack Snyder, tinham uma aura melancólica, taciturna e sombria, sem qualquer mensagem de otimismo.
Aqui, a experiência é oposta. Sabe a sensação de ler um quadrinho ou assistir à antiga animação da Liga da Justiça de manhã cedinho, naquele horário da merenda, com aquelas histórias cheias de elementos que deixavam um quentinho no coração? Senti algo bem parecido com isso.

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Superman. Kal‑El. Clark Kent. Nascido em Krypton, mas criado na Terra. Filho de Jon e Martha Kent (lindamente interpretados por Pruitt Taylor e Neva Howell), Imigrante. Super-herói. Jornalista.
É regozijante ver o quanto ele é humanizado nesta história. De uns tempos para cá, personagens invencíveis e perfeitos vêm me afastando naturalmente. Gosto do complexo, das nuances, de acompanhar jornadas de evolução e evoluir junto. Claro, isso não é obrigatório, mas é uma experiência que gosto de vivenciar.

Corenswet encarna tão bem essa versão que seu Superman parece palpável, mesmo envolto em uma grandiosidade quase divina. Ele apanha, sofre, luta, sorri, respira (em todas as acepções do termo), trabalha, ama, protege pessoas, cachorros e esquilos… Faz e sente tudo aquilo que nos torna humanos. Alguns abraçam isso, outros não; Clark Kent abraça. Superman também. Ambos com muita humanidade.

O elenco de apoio não fica atrás, pelo contrário, brilha igualmente.
Rachel Brosnahan traz uma Lois Lane ativa, jornalista nata, afiada, com uma química tão magnética com Clark que atrai a gente pra dentro da tela o tempo inteiro. Skyler Gisondo vive um Jimmy  Olsen carismático, que merecia mais tempo de tela, mesmo sendo fundamental nos desdobramentos da história. Sara Sampaio surpreende como Eve Teschmacher, uma personagem que vai calar a boca de muita gente com sua sagacidade.

A “Gangue da Justiça” (nome provisório da equipe, só pra reforçar) surge em momentos pontuais da trama, oferecendo ótimas cenas de ação e humor. Guy Gardner, o Lanterna Verde (Nathan Fillion) é petulante, mas engraçado. Mulher‑Gavião (Isabela Merced) tem um visual marcante, mas pouco tempo para se firmar. O destaque vai para o Senhor Incrível de Edi Gathegi, que tem uma função maior. Um personagem que eu desconhecia e que me encantou em todos os aspectos. Não posso deixar de mencionar também o Metamorfo de Anthony Carrigan, que por mais que pareça jogado ali, tem momentos importantes ao lado do nosso protagonista.

Já o Lex Luthor de Nicholas Hoult é insano, no sentido mais amplo da palavra. É muito bom ver, na ficção, um vilão que é mau por ser mau, sem justificativas melodramáticas. Narcisista, egocêntrico, mentiroso, invejoso, e não esconde nada disso. Um bilionário megalomaníaco que usa sua influência para divulgar fake news, fomentar ataques, financiar massacres e inflar um ego estratosférico, arrancando os cabelos (se ainda os tivesse) apenas pela existência de um estrangeiro que luta pelo bem. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência. James Gunn não é inocente — e nem bobo.

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Uma das coisas que mais curti nessa nova versão é que o núcleo jornalístico ganhou importância real dentro da história. Vamos lá, trazendo para nossa realidade: qual é a melhor maneira de desmascarar uma fake news? Com fatos. E esse é justamente o papel do jornalista. Na trama, Luthor usa não só dinheiro, mas também recursos bem excêntricos para espalhar notícias falsas e fomentar discursos de ódio nas redes, 24 horas por dia — tudo isso para moldar a opinião pública a seu favor e destruir a imagem do Superman.

O núcleo, formado por Lois Lane (Brosnahan), Jimmy Olsen (Gisondo), o chefe Perry White (Wendell Pierce), o bigodudo Steve Lombard (Beck Bennett), a astuta Cat Grant (Mikaela Hoover) e o repórter Ron Troupe (Christopher McDonald) — tem um papel claro e essencial na luta contra o mau-caratismo e todas as armações de Luthor, através da busca incansável pela verdade. E é exatamente isso que nós, jornalistas, devemos fazer.

Uma pena que o Clark esteve mais ausente nessa aventura específica. Eu adoraria ver o alter ego do Superman em ação como repórter. E tem motivo: eu e o Clark Kent somos xarás. Ambos com as iniciais CK, ambos jornalistas, e ambos querendo tornar o mundo um lugar melhor.

Superman é um filme necessário em tempos tão nefastos. James Gunn acerta ao criar não apenas um novo universo colorido, corajoso e cheio de possibilidades, mas também uma história que, apesar da grandiosidade que paira sobre ela, é profundamente humana.
Quando eu disse que as pessoas vão querer usar a cueca por cima da calça de novo, é porque, ao sair da sessão, eu me senti renovado. Com vontade de ser amigo daquele Superman. Com a sensação de que uma cueca por cima da causa me deixaria ainda mais à vontade para enfrentar as adversidades da vida.

Finalmente, o personagem tem uma representação que exala aquilo que ele sempre simbolizou: a esperança. A certeza de que ele sempre estará ali para fazer o que é certo. E uma certeza ainda maior de que o legado do Superman está em boas mãos.

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Cleyton Kelvin

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